quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Vivemos o mundo do conformismo, da praticidade, da agilidade, onde as coisas se resolvem em um click, deixando o cérebro “preguiçoso”. Ao se deparar com algo diferente, que necessite de uma ideia, sair do habitual, a criança fica estressada, desistindo facilmente do alcance do objetivo, deixando de lado uma habilidade muito importante, que na fase adulta será cobrada: resiliência.
A resiliência é a capacidade de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas.

http://meucerebro.com/nao-crie-um-robo-crie-uma-crianca/

sábado, 23 de maio de 2015

SAÚDE MENTAL, uma sábia reflexão de Rubem Alves


Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maikóvski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. van Gogh se matou. Wittgenstein se alegrou ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakóvski suicidou.
Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias se comportam bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado, nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme!), ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, que tenha a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa…
Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idiotas de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. É claro que nenhuma mamãe consciente quererá que o seu filho seja como van Gogh ou Maiakóvski. O desejável é que seja executivo de grande empresa, na pior das hipóteses funcionário do Banco do Brasil ou da CPFL. Preferível ser elefante ou tartaruga a ser borboleta ou condor. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego. Mas nunca ouvi falar de político que tivesse stress ou depressão, com exceção do Suplicy. Andam sempre fortes e certos de si mesmos, em passeatas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.
Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas se chama hardware, literalmente coisa dura e a outra se denomina software, coisa mole. A hardware é constituída por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. A software é constituída por entidades espirituais – símbolos, que formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos, o cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo espirituais, sendo que o programa mais importante é linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e acessórios, o software, tenha a capacidade de ouvir a música que ele toca, e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta, e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei, no princípio: a música que saía do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou.
A beleza pode fazer mal à saúde mental. Sábias, portanto, são as empresas estatais, que têm retratos dos governadores e presidentes espalhados por todos os lados: eles estão lá para exorcizar a beleza e para produzir o suave estado de insensibilidade necessário ao bom trabalho.
Dadas essas reflexões científicas sobre a saúde mental, vai aqui uma receita que, se seguida à risca, garantirá que ninguém será afetado pelas perturbações que afetaram os senhores que citei no início, evitando assim o triste fim que tiveram.
Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente perigosos. Já o roque pode ser tomado à vontade, sem contra indicações. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do Dr. Lair Ribeiro, por que arriscar-se a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. A saúde mental é um estômago que entra em convulsão sempre que lhe é servido um prato diferente. Por isso que as pessoas de boa saúde mental têm sempre as mesmas idéias. Essa cotidiana ingestão do banal é condição necessária para a produção da dormência da inteligência ligada à saúde mental. E, aos domingos, não se esqueca do Sílvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo esta receita você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, ao invés de ter o fim que tiveram os senhores que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já não mais saberá como eles eram.
(Provavelmente escrito em 1994)
Conheça o Instituto Rubem Alves e participe de seus projetos.

Afinal, você sabe o que é RESILIÊNCIA ?


Resiliência pode ser definida como a capacidade do indivíduo em suportar pressões. A capacidade de atravessar experiências adversas sucessivas, enfrentar problemas e dificuldades, sem comprometer a condição de prosseguir e se desenvolver.
Esta postura requer energia, equilíbrio emocional, autoestima e autoconfiança.
A vida nos coloca frente a frente com situações adversas e, muitas vezes, traumáticas. Por isso, pessoas que desenvolvem um comportamento vencedor conseguem transformar dificuldades em oportunidades de crescimento e prosseguir em situações nas quais as demais costumam ficar emocionalmente abaladas.
Nosso grau de resiliência é uma consequência da boa estruturação de nosso universo interior e depende dos vínculos que estabelecemos com a vida e com as pessoas mais significativas que dela participam.
Ser resiliente é superar problemas, extrair lições das dificuldades e seguir fortalecido. Quanto maior for o nosso nível de consciência, maiores serão nossas possibilidades de agir assim.
O mundo é dos fortes, dos que superam corajosamente as dificuldades e obstáculos, recomeçando continuamente, sem jamais esmorecer.
Quanto maior for nossa resiliência, maiores serão as condições de desenvolvimento pessoal e profissional, maior a motivação e a capacidade de lidar com situações tensas e complexas, algo extremamente valorizado no ambiente corporativo.
Reflita sobre isso!
Paz e Alegria,
Carlos Hilsdorf
Página Oficial: Carlos Hilsdorf
"O mais importante na vida são as suas atitudes,aja de maneira correta e justa, mantenha as qualidades boas em alta, e faça da verdade a sua bandeira na busca pela felicidade."
__________Márcio Reis

Cargas desnecessárias

Um viajante caminhava cansado pela estrada, levando uma grande pedra nas mãos. Nas costas ainda carregava um pesado saco de terra. No caminho, uma pessoa viu sua dificuldade e lhe perguntou: - Cansado viajante, por que carrega essa pedra tão grande? - É estranho, mas eu não tinha realmente notado que ainda a carregava. Ela não tem mais utilidade para mim – disse o viajante. Então, ele jogou a pedra fora e se sentiu muito melhor. Mais adiante, outra pessoa cruza seu caminho e lhe pergunta: - Por que carrega esse saco de terra tão pesado? - Estou contente que me tenha feito essa pergunta - disse o viajante - porque eu não tinha percebido que não precisarei mais dele. Desfez-se do saco de terra, e percebeu que tornou-se um homem mais livre e passou a caminhar mais tranquilo e feliz. (autor desconhecido) Qual era na verdade o problema dele? A pedra? O saco de terra? Não. Era o apego e a falta de consciência da existência desses pesos. Uma vez que as viu como cargas desnecessárias, livrou-se delas e já não se sentia mais tão cansado.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

RECEITA DO ANO NOVO por Carlos Drummond de Andrade..



RECEITA DO ANO NOVO por Carlos Drummond de Andrade..

"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."

Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.